ECO
ela jogou um "eu te amo" no ar apenas para ouvi-lo de volta, refletido em um anônimo, e o fez sem culpa. não são poucas as vezes em que é a solidão quem diz que ama. rasa como era, não havia ainda pensado na raridade com que a recepção certa, aquela do brilho nos olhos, do não-sei-o-que-dizer, do calor nas têmporas, do mundo ao redor todo embaçadinho, vem junto e divide o momento com o célebre amor falado. foi só então (e, até hoje, apenas então) que se permitiu. e continuou, enxergando as sentenças de sentimento como mistérios em mesmo formato. perguntou a mim e a todos e a si mesma de quantas em quantas vem uma que realmente carrega a algum lugar melhor. mas deu-se cansada antes de alcançar a conclusão. não descobriu que o risco e a pena de soltar por aí um "eu te amo", seja ele devido ou não, é justamente não ganhá-lo de volta. ou então ter nas mãos um que não faz jus à espera, que não causa a emoção prometida, que não serve para nada.