ROMANCE


Com o sol de um mês qualquer, chegou o dia em que parar com a autopena pareceu um pouco menos impossível.
Então, ela parou.
Assim como é com um bebê que nasce, tudo parecia novo, muito parecia ausente de sentido, o mundo era uma descoberta a acontecer.
Espera aí, era essa a grande novidade?
Não parecia tão mais fácil viver assim do que vinha sendo viver escondida sob aquele peso feio do que passou, do fim de meses atrás.
O fim. Recomeços fazem as articulações doerem.
Foi então que bateram na porta. Três batidas rápidas, que sugeriam ou intimidade ou pressa ou algum tipo de violência. De todas, era melhor fugir por enquanto.
"Devagar, devagar", dizia mentalmente, em forma de mantra. "Que merda", dizia com todo o corpo, em voz alta.
Eram cinco da tarde. Fosse em plena madrugada, um viva, mas há pouca poesia em um alguém misterioso batendo na sua porta às cinco da tarde de uma terça-feira.
Melhor ignorar. O melhor era ignorar. Ignorar. Então, a voz.
− Fê, eu sei que você está aí.
− Que merda − repetiu. Deixou o mantra pra lá.